“Em Novembro, durante as eleições, pus-me a fazer contas e decidi, com alguma confiança (como muitos de nós na comunicação social), que aquilo estava ganho e que toda a gente podia ir dormir às nove da noite. Enganei-me. Enganámo-nos todos”, recorda Bill Frischling, que na altura era vice-presidente e empreendedor residente na U.S. News & World Report. “Como a maioria dos nerds, o que me incomoda não é estar enganado, mas perceber porque é que estava enganado.”
Fake news, “bolhas de filtro” e a incapacidade da elite mediática de escrever para comunidades negligenciadas foram apontadas como razões e desculpas. Frischling, que ficou particularmente perturbado pela influência das fake news e dos sites de conspirações, decidiu arranjar uma maneira melhor de fornecer a investigadores, repórteres e leitores interessados as fontes originais da informação.
“Como é que se combate as fake news? Agarrei-me às fontes originais. Se ouvirmos ou lermos directamente o que as pessoas disseram, com todo o contexto, não podem dizer que as tirámos do contexto”, contou Frischling. “Mas procurar esse material primário não é nada fácil.”
A solução de Frischling tornou-se o Factba.se, uma colectânea facilmente pesquisável que contém praticamente todas as declarações vindas do próprio Donald Trump e da Casa Branca, incluindo documentos orientadores oficiais da campanha de Trump, o calendário oficial da Casa Branca, publicações oficiais nas redes sociais e, claro, tweets de @realdonaldtrump. Por exemplo, é isto que encontramos ao pesquisar a palavra “failing” (falhar, frágil):
Também existe a aplicação para iPhone Trump Feed, que custa 0,99 dólares (0,93 cêntimos) e que recolhe, em tempo real, todas as mensagens da Casa Branca de Trump, incluindo tweets apagados – bem como se estes foram provavelmente enviados por Trump ou pela sua equipa. (Também é possível receber notificações sempre que qualquer coisa é publicada, uma funcionalidade cuja activação não é recomendada a quem não estiver a fazer a cobertura noticiosa das actividades da Casa Branca). A base de dados também já inclui transcrições de discursos (incluindo a mensagem semanal em vídeo do Presidente), com uma análise de sentimento e um sistema extenso de categorização por palavras-chave.
“Os grandes meios como a CNN, o New York Times, a AP e o Washington Post estão constantemente no top 10 dos domínios com mais tráfego no Factba.se”, segundo Frischling. O tempo médio que um utilizador passa na base de dados oscila entre os 20 e os 30 minutos, o que sugere que os utilizadores podem estar a ver os vídeos e a ler os documentos que vieram procurar.
Frischling afirmou que estava disponível para trabalhar com todas as organizações que coleccionam documentos e vídeos neste espaço (“Por exemplo, temos uma captura de ecrã de todos os tweets de Trump… incluindo alguns que foram apagados desde Julho por motivos de arquivo. Se alguém precisar deles, tenho todo o gosto em partilhar o nosso repositório S3”). O Internet Archive, por exemplo, também criou uma biblioteca de verificação de factos de todas as vezes que Trump fez declarações gravadas.Frischling saiu entretanto da U.S. News para desenvolver a tecnologia que está por trás do Factba.se a tempo inteiro. A base de dados sobre Trump é gratuita, sendo a face de serviço público de um negócio muito maior, que vai vender as ferramentas de pesquisa que foram inicialmente desenvolvidas para a base de dados de Trump e que se expandiu muito para lá das declarações relacionadas com Trump. (A empresa-mãe deste trabalho é a CantyMedia, que desenvolveu outros projectos como o Weatherba.se e o Geoba.se. Jennifer Canty, a mulher de Frischling, e o irmão dele são os outros gestores da empresa).
“O Factba.se é, por assim dizer, a missão. Não estou a tentar ganhar dinheiro. Mesmo a aplicação de 0,99 dólares é quase só para custos de serviço”, disse Frischling. “O lado empresarial é a plataforma de pesquisa, que nos permite aceitar tudo – vídeo, documentos, áudio –, pôr lá tudo, e que consegue transcrever discursos, extrair palavras-chave, detectar quem está numa imagem, analisar emoções.”
“Quando andava a mostrar isto a outras pessoas, principalmente a gente da indústria televisiva, ficaram estupefactos. O que eu tinha criado para a pesquisa de vídeos era muito mais avançado do que aquilo que eles usavam a nível interno”, acrescentou Frischling. “Foi aí que comecei a pensar que isto podia evoluir para outra coisa.”
The Portuguese version of this story was published with Publico. Translation by Rita Monteiro.