Mais de 7 mil artistas actuaram na região de Nova Iorque em 2013. Mas só 21 deles tiveram sucesso posteriormente, sucesso a sério, ao serem cabeças de cartaz num espaço com capacidade para mais de 3 mil pessoas – entre eles, nomes maiores como Chance the Rapper, X Ambassadors, Sam Smith e Sylvan Esso.
Aprendi este pedaço de informação aleatória mas fascinante numa visualização de dados intitulada The Unlikely Odds of Making it Big (“A probabilidade improvável do sucesso”), do site The Pudding.
O The Pudding alberga visualizações de dados – a que o site chama “ensaios visuais” – de alta interacção e cuidadosamente construídas, que se distinguem pela sua complexidade obsessiva acerca de pontos de curiosidade cultural. A maior parte dos artigos está completamente separada do ciclo de notícias americano; não há gráficos interactivos causadores de ansiedade sobre temas como o orçamento, os impostos, os cuidados de saúde. Quer saber onde é que a lenda do jazz Miles Davis é mencionado em toda a Wikipedia e como ele está ligado a outras pessoas, discos e lugares? Aqui tem.
(Outras coisas que descobri ao explorar os gráficos interactivos do The Pudding: que a cidade onde vivo provavelmente não é a capital americana da cerveja artesanal; que há provas bastante fortes de que os árbitros da NBA favorecem a equipa da casa; que a canção No Diggity, dos Blackstreet, é irrefutavelmente intemporal, pelo menos com base na contagem de reproduções do Spotify, em comparação com os seus pares dos anos 90.)
O Pudding é o novo ramo editorial, recém-separado, da Polygraph (polygraph.cool!), uma empresa de visualização de dados constituída por três pessoas, que foi fundada há dois anos por Matt Daniels, um consultor com experiência em marketing digital. Daniels e os sócios Russell Goldenberg e Ilia Blinderman publicam visualizações sumptuosas que satisfazem necessidades pessoais. O The Pudding também trabalha de perto com freelancers em praticamente todas as questões que têm interesse em explorar visualmente, desde que seja com base em dados. Os freelancers recebem uma taxa fixa de 5000 dólares (4596 euros) por cada trabalho.
“Estamos muito dispersos. Mas, basicamente, cada indivíduo escolhe a sua ideia, nós avaliamo-la e asseguramo-nos que os dados existem, que ela é interessante e depois fazemos isso”, contou-me Goldenberg. (A lista de futuros artigos do The Pudding está neste Google Doc público.) “O nosso objectivo é transformar o The Pudding numa revista semanal. Procuramos especificamente histórias que não estão relacionadas com as notícias, porque não queremos competir nesse espaço. O Washington Post, o New York Times, o FiveThirtyEight e muitos outros sítios fazem gráficos interactivos muito bem, fazem vários artigos jornalísticos com base em dados diariamente. Isso não se enquadra no que nós queremos ser.”
Our story backlog is now totally open again. Take, comment, or collab: https://t.co/6w3vD6d8jk
— The Pudding (@puddingviz) April 28, 2017
Goldenberg já trabalhou no The Boston Globe como programador de notícias interactivas e Blinderman é um escritor sobre ciência e cultura que estudou jornalismo de dados na Universidade de Columbia. Apesar das credenciais jornalísticas, o The Pudding (e o Polygraph) não pretende ser uma empresa jornalística. Ao desenvolver uma visualização, a equipa pode contactar algumas pessoas para fazer perguntas ou pode ter de criar uma base de dados própria (por exemplo, esta exploração do libreto do musical Hamilton, feita por uma freelancer), mas a maioria dos dados que utilizam para criar interactivos já estão disponíveis (sem precisar de recorrer ao Freedom of Information Act).
O trabalho é promovido no site do The Pudding e através das newsletters do Polygraph e do Pudding, que vão acabar por se fundir numa só. A newsletter do Polygraph, que partilha as visualizações mais recentes, tem cerca de 10 mil subscritores; a do Pudding tem cerca de mil, depois de ser lançada este ano. Tirando isto, a divulgação é feita sobretudo de boca em boca – e alguns artigos conseguiram disseminar-se muito desta maneira. Estão sem dúvida abertos a colaborar com “parceiros mais visíveis”, disse-me Goldberg — “[mas] não somos agressivos na nossa abordagem”.
(No ano passado, surgiu um projecto semelhante, chamado The Thrust, que pretendia servir para albergar projectos de visualização de dados que as organizações tradicionais de notícias não conseguiam encaixar nos seus ciclos de notícias. Os criadores saíram para trabalhar a tempo inteiro no ProPublica e no New York Times e o site deixou de ser actualizado.)
O lado financeiro do Polygraph funciona como uma agência digital, com Daniels, Goldenberg e Blindermen a realizarem projectos para grandes clientes como o YouTube, o Google News Lab e o Kickstarter. Goldenberg não quis revelar quanto cobram por estes artigos patrocinados, mas os rendimentos vindos de alguns projectos para clientes financiam todo o lado editorial, incluindo o pagamento de artigos de freelancers e os salários dos actuais três funcionários a tempo inteiro.
“Tentamos aceitar trabalhos para clientes só para pagar à equipa e, basicamente, para sustentar o The Pudding, com entre três e seis freelancers por cada trimestre – se calhar, o que estamos a fazer é um pouco às avessas”, disse Goldberg. “O nosso trabalho editorial também serve essencialmente de marketing. Geralmente, quando publicamos um projecto novo no The Pudding, recebemos alguns contactos de negócios. É uma óptima relação simbiótica.”
A Polygraph também está a contratar para duas posições a tempo inteiro – um “criador” e um editor –, ambas com salários competitivos, o que sugere que o lado do negócio virado para os clientes vai bastante bem. As suas ambições futuras, porém, são directas: publicar visualizações com base em dados mais interessantes.
“Queremos desenvolver a arte de contar histórias visualmente e isto não se faz a nível diário”, disse Goldberg. “Ainda queremos demorar algum tempo e passar umas semanas, talvez um mês ou mais, com um projecto. A menos que tenhamos dúzias de pessoas a trabalhar para nós, não seríamos capazes de publicar mais do que uma vez por semana. Geralmente, só estamos a tentar estabelecer esse ritmo e continuar a publicar bons artigos.”
The Portuguese version of this story was published with Publico. Translation by Rita Monteiro.