O que provavelmente não cessará com as eleições é o barulho coletivo e infinito provocado pelas notícias falsas (fake news) e o apontar de dedos vindo de todas as direções. (O promotor de justiça de Paris disse na 5ª feira, 4.mai, que estava abrindo 1 inquérito para descobrir se notícias falsas estavam sendo espalhadas para influenciar os eleitores. Alerta de spoiler: Estavam).
CrossCheck, uma colaboração bilíngue espalhada por toda a França, formada pela parceria de 37 redações checando (e re-verificando umas para as outras) questões enviadas pelos leitores, está terminando suas atividades após 10 semanas (foram recebidas cerca de 500 questões no total, através do formulário de envio, e cerca de 60 foram apuradas). No processo, CrossCheck acumulou muitas informações sobre a resposta dos leitores e o engajamento social, e agora está descobrindo como conduzir pesquisas úteis baseado no que coletou, como disseram Claire Wardle, diretora de pesquisa e estratégia da Google News Lab –apoiador do First Draft News, e Sam Dubberley, editor administrativo do CrossCheck. O time agora está conversando com a psicóloga social Lisa Fazio, da Vanderbilt University, e se inscreveu para a bolsa da Knight Foundation para fazer pesquisas sobre as questões que surgiram durante o período de verificação de informações. Como, por exemplo: o jeito de escrever as manchetes altera as respostas dos eleitores? E o uso de imagens? Mais importante: o fato de se ter múltiplas redações –e múltiplos logotipos ligados a cada checagem dos fatos– realmente aumentou a confiança dos leitores na informação? Ou será que fez cair na narrativa de elites midiáticas fora de alcance, juntas? (Wardle disse que “tivemos sim pessoas perguntando, ‘Quem está por trás disso?’ ‘Quem está lhe pagando?’“).O processo de checagem dos fatos do CrossCheck, em si, é bem organizado: uma organização de notícias parceira apresenta uma questão para o time, e outras organizações debatem e elaboram sobre. Se a checagem fosse aceita de maneira geral, a organização poderia adicionar seus logos na informação (adicionalmente, estudantes de jornalismo servem como ligação entre todas as redações e os funcionários do CrossCheck). A esposa de Emmanuel Macron, Brigitte, realmente lançou uma enquete no Twitter que saiu a favor de Le Pen? Não. Macron foi realmente pego em vídeo lavando as mãos após cumprimentar trabalhadores? Também não.
“Têm se tornado claro durante o projeto que, como uma indústria de notícias, nós nunca tivemos de lidar com contar histórias sobre rumores e conteúdos falsos no nível com que estamos tendo de fazer agora“, disse Wardle. Certos sites de notícias falsas alcançaram 1 nível memorável de sofisticação: 1 site impostor imitou o site belga Le Soir, incluindo até links reais que levavam de volta ao site original.
O time também teve de administrar preocupações sobre divulgar desinformações ao se checar os fatos contidos neles. Percebeu-se que, por exemplo, incluir imagens falsas para ilustrar a checagem ajudou a recircular desinformação nas redes sociais. AFP, uma organização parceira da CrossCheck, ajudou a criar um cartão social diferente que poderia ser compartilhado no Facebook e no Twitter, que demonstraria imediatamente se a história em questão era falsa. E então, houve a preocupação sobre como criar maior visibilidade em histórias que podem ter pouco poder de permanência.
“Se vamos expôr uma história muito cedo, quando ela está circulando apenas em certos nichos do Facebook, então estaremos dando-lhe muito oxigênio. Mas se deixarmos que os rumores se espalhem demais, então será tarde demais para o desmentir“, disse Wardle”. “Alguns dizem, ‘vocês apenas expuseram 60 histórias?’, e eu achei que em 2 meses, conseguiríamos expor talvez 10! Parte disto se dá por nossa responsabilidade para com as audiências –ajudá-los a navegar através de complexos ecossistemas, e não amplificar rumores“.
O Facebook não ofereceu nada além das métricas usuais de audiência que todos possuem, e CrossChek perdeu o timing da iniciativa do Facebook para notícias falsas que passou na França (onde histórias checadas eram marcadas, com links para artigos que os expõe). No entanto, o Facebook criou uma promoção gratuita que ajudava histórias checadas a atingirem uma audiência maior que a de certas organizações de notícias (no Facebook, CrossCheck atingiu mais de 180.000 seguidores nas 10 semanas). O time criou vários vídeos explicadores também, sabendo que poderiam funcionar melhor no ambiente virtual.
Tanto Wardle e Dubberley foram perguntados sobre o que viria agora, além da necessidade de se realizar mais pesquisas.
“Dizer que o CrossCheck é a solução depois de fazer isto para esta única eleição, este é o modelo, isto é perfeito… seria muito arrogante dizer que ‘todos devem agora usar o CrossCheck’ sem fazer a devida pesquisa social baseada nas informações“, disse Duberley. Wardle afirmou que o time foi acionado em países da Coreia ao Quênia para montar iniciativas parecidas durante as eleições. “Pessoas têm perguntado, ‘Vocês viriam ao nosso país? Nós realmente precisamos’. Bom, eu não sei se sabemos se precisamos ou não, ou se precisamos desta maneira. Nós não sabemos o impacto que tivemos sem fazer mais pesquisas, e não sabemos se ter várias organizações trabalhando juntas poderia reforçar a ideia de que a mídia é um grande bloco. Nós não sabemos ainda“.
“Realmente parecia que precisávamos colocar algo a campo, deixando claro que o que estávamos desenvolvendo era 1 tipo de laboratório”, adicionou Wardle. “Se não tivéssemos posto nada em prática, não teríamos nada para testar“.
Translation by Poder360.