O Brasil está sofrendo uma crise política e as organizações de notícias estão enfrentando uma torrente de notícias urgentes, enquanto os escândalos de corrupção envolvendo os últimos presidentes brasileiros continuam a atravessar o país.
No olho da tempestade, o Nexo Jornal busca criar um espaço entre pesquisa acadêmica e jornalismo explicativo. Sua ideia continua firme em ser um negócio focado em assinantes, agora chegando ao seu segundo ano (sob um segundo presidente brasileiro, que recentemente sobreviveu a um impeachment).
“Fazemos notícias explicativas, contextualizadas e lançamos [o site] no início de um período de crise no Brasil”, disse Renata Rizzi, cofundadora do Nexo e diretora de estratégia e negócios. O Nexo foi lançado no verão de 2015 e “na época, Lula [35º presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva] estava sendo investigado. Estávamos no meio dessa turbulência no Brasil, e foi uma loucura em termos de carga de trabalho. As coisas estavam se movendo tão rapidamente em termos de notícias que acho que se alguém fosse à nossa página inicial, pensariam que éramos de Marte.”
No ano seguinte, o site estabeleceu fluxos de trabalho editorial mais leves e adicionou cinco novas seções, com a perspectiva de organizar e contextualizar a miríade de debates em torno de tópicos jornalísticos, ou responder a perguntas comuns de leitores, de política a ciência a cultura. Suas principais notícias da semana após Michel Temer, o 37º e atual presidente brasileiro, sobreviver a uma votação do Congresso sobre uma acusação de suborno contra ele, dão uma boa noção da abordagem do Nexo: incluem uma série de gráficos que organizam a forma como os membros do congresso votaram no impeachment, uma coluna intitulada “O fim do Brasil”, e uma explicação sobre se é seguro retirar os pedaços de mofo da comida e comer o resto (depende da comida!).
[gráfico] A votação da denúncia contra Temer na Câmara em 16 gráficos. https://t.co/a9KIe2R6tK pic.twitter.com/trQKhUW6YL
— Nexo (@NexoJornal) August 3, 2017
A equipe do Nexo Jornal de cerca de 30 pessoas, a metade jornalistas e o resto, uma mistura, incluindo desenvolvedores e designers, desenvolveram um ritmo de publicação. Eles sempre publicam, por exemplo, três infografias a cada semana, dois artigos de opinião e um quiz, contou Paula Miraglia, diretora-geral do Nexo. Todo mês a equipe publica uma reportagem longa com interativos abrangentes que requerem um esforço pesado de uma equipe maior (aqui está um exemplo recente notável).
“Do ponto de vista editorial, percebemos esse contexto e explicação, [e] levamos essas coisas a um nível quase radical. É fundamental para nossos modelos editoriais e empresariais produzir conteúdo que dure”, disse Paula. “A pergunta que sempre fazemos é qual é o conteúdo que vai fazer o público pagar por ele? Devido ao nosso tamanho, produzimos menos do que alguns outros sites. Não se trata da quantidade de coisas que publicamos; para nós, é mais sobre tempo de validade e qualidade”. Paula e Renata apontaram para uma cobertura recente em torno do surgimento de uma fita que implicava Temer em um suborno: algumas das principais organizações de notícias brasileiras cobriram suas homepages com mais de uma dúzia de matérias diferentes de vários ângulos, enquanto o Nexo só tinha duas, um explicador básico e uma análise mais ampla.
O Nexo também possui uma seção dedicada a novas pesquisas acadêmicas, onde estudiosos podem enviar seus trabalhos para consideração, e editores do Nexo trabalham com eles para destilar suas descobertas em um formato mais legível (a seção não segue o modelo da organização The Conversation, que depende de instituições acadêmicas membros).
O toque acadêmico do site pode ser explicado pela bagagem de suas duas fundadoras: Renata é engenheira e possui um Ph.D. em economia, e Paula é cientista social com um Ph.D. em antropologia. Seu terceiro cofundador, Conrado Corselette, é um jornalista de longa data que atua como editor-chefe do Nexo.
Em setembro passado, depois de ter decidido que sua base de leitores era grande o suficiente para começar a introduzir o conceito de conteúdo pago, o Nexo implementou o paywall medido que sempre teve a intenção de colocar, aguardando até o impeachment de Dilma Rousseff, 36º presidente do Brasil, ser oficialmente concluído. Os leitores podem acessar cinco matérias de graça, então pagar R$12 (US$3,81) por mês para o acesso integral (algumas seções do site, como podcasts e vídeos, permanecem abertas a leitores que não pagam). O site também começou a vender pacotes de inscrição para instituições acadêmicas.
Renata e Paula não falaram muito sobre o que mais o Nexo pretende fornecer, mas apontaram para podcasts, que não atingiram a mesma popularidade no Brasil que alcançaram nos Estados Unidos, como um formato que estão interessadas em explorar mais. Elas também mencionaram a possibilidade de algumas “parcerias”, ideias para “novos formatos em torno das experiências dos usuários”, e que o Nexo está desenvolvendo dois aplicativos.
“O discurso público no Brasil está muito polarizado. A ideia de debate em si é desafiadora. Queremos contribuir para o debate público”, disse Paula. “Comunicar com nossos leitores é um aspecto fundamental disso. Estamos recebendo muitas sugestões de nossos leitores. Eles nos falam quando há erros. Eles nos falam quando há elogios. Eles compartilham muito o nosso conteúdo. É gratificante que nosso público veja o que estamos tentando fazer.”