Donald Trump já referiu-se diversas vezes à mídia de notícias como a “grande inimiga do povo americano”. Em maio, o representante da Montana House Greg Gianforte agrediu o jornalista Ben Jacobs, de The Guardian, por fazer uma pergunta. Em julho, repórteres foram obrigados a excluir fotos e vídeos de uma manifestação, onde pessoas contra o “Trumpcare” foram presas em um corredor do Senado.
Parece que a liberdade da imprensa norte-americana diminuiu nos últimos 6 meses, desde que Donald Trump assumiu o cargo de presidente. Porém, o novo site U.S. Press Freedom Tracker, lançado em 2 de agosto, pretende mostrar se a situação é tão ruim quanto parece. O portal “pretende ser o 1º a fornecer informações confiáveis e legítimas sobre o número de violações da liberdade de imprensa sofridas nos Estados Unidos –desde jornalistas enfrentando acusações a repórteres barrados na fronteira dos EUA ou que ouviram ordens para entregar seus equipamentos”.
O site é independente da Fundação de Liberdade de Imprensa e tem 20 parceiros, incluindo Comitê de Proteção ao Jornalista (Committee to Protect Journalists/ CPJ), Repórter sem Fronteiras (Reporters Without Borders) e outros. Greg Gianforte, citado anteriormente, teve que pagar US$50,000 para o Comitê de Proteção ao jornalista para cumprir um acordo. O dinheiro ajudou a fundar o Apurador Norte-americano de Imprensa Livre.
“Queríamos visualizar o que poderíamos apurar quantitativamente”, disse Peter Sterne, co-editor e ex-repórter do Politico. “As prisões, as censuras e as apreensões de equipamentos são dados que podem ser arquivados agora e futuramente, para que possamos observar pioras e -esperançosamente- melhoras”.
Em seu lançamento, a página online apurou violações contra o ofício jornalístico que ocorreram desde 1º de janeiro deste ano. Para essa retrospectiva, Sterne pesquisou e verificou, de forma independente, relatórios já publicados. Ele espera que a maioria das dicas venha de organizações parceiras e dos próprios repórteres.
O U.S. Press Freedom Tracker classifica os atos em: prisão, proibição de acesso, caso de fuga, dano ou confisco de equipamento, ataque físico e outros. Os visitantes podem filtrar os casos em todas essas “categorias” e visualizá-las separadamente. Também é possível filtrar episódios por meio da localização, nome do repórter agredido ou por outros diversos meios. Os filtros são úteis se alguém quer tentar descobrir a condição dos repórteres que são censurados, disse Sterne.
Em 2017, o site identificou 19 prisões, 12 apreensões de equipamentos, 11 casos de agressão física e 4 censuras.
Também há espaço para filtros mais ‘qualitativos’: negação de acessos, declarações e fatos que “não podemos contar de forma abrangente porque é subjetivo“, disse Sterne. “Estamos tentando ser representativos e dizer que há alguns incidentes que podem nos dar uma idéia do que está acontecendo agora. Não é algo que procuramos contar quantitativamente e comparar ao longo do tempo. Mas sempre que há um incidente que, no meu julgamento editorial, diz algo sobre o estado da liberdade de imprensa nos EUA, é algo que queremos incluir no site”. O blog do site também mostra relatórios, alguns dos quais são mais qualitativos, de organizações parceiras.
Apesar de o site divulgar relatórios anuais, seu objetivo principal é “ser uma fonte diária de dados, que podem ser consultados a qualquer momento”, disse Sterne. “Sou um jornalista. Minha esperança é de que, a qualquer momento, eu consiga ter acesso à informação rapidamente”. Isso inclui casos que o site está rastreando, com acusações verídicas ou com acusações sendo descartadas. “A esperança é que os jornalistas, advogados e funcionários públicos possam consultar o status atual de um caso“.
As pessoas querem saber se a liberdade de imprensa dos EUA é pior na administração de Donald Trump do que nos anos anteriores. Porém, é muito cedo para dizer, de acordo com Sterne. Os dados anteriores ao ano de 2017 não estão sendo incluídos pelo Tracker devido à dificuldade de conseguir tais informações de forma abrangente e precisa.
“A minha preocupação é que, se tentássemos coletar dados de anos anteriores, pode parecer artificialmente baixo e pareceria ter piorado ainda em 2017, quando na verdade era apenas um artifício da coleta de dados”, disse Sterne. “É por isso que não estou disposto a tirar conclusões. Em 1 ano –ou talvez em 2 anos– poderemos olhar para trás e dizer: tudo bem, houve muitas detenções em 2017. Quantos havia em 2018?”.